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EM SALITRE, CISTERNEIROS TRANSFORMAM CIMENTO EM CIDADANIA

O cisterneiro Pedro Arraes

Por todo o Semiárido brasileiro, milhões de cisternas estocam água limpa e de qualidade. Mas você conhece quem as constrói? Chamados de cisterneiros e cisterneiras, milhares de agricultores familiares dedicam sua vida a transformar cimento em cidadania. Acompanhe suas histórias!


Nem o sol a pino do meio-dia, nem o calor quase insuportável naquela manhã de janeiro, desanimavam os irmãos Antonio Eudes e Pedro Arraes. No quintal de D. Josefa Alves, agora transformado temporariamente em canteiro de obras, na comunidade Sassaré, município de Salitre, faltava pouco para finalizar a cisterna-calçadão que a família receberia dali a dois dias.

Eudes, "Faço cisterna por carinho"


Para onde se olhe há vida: um vai-e-vem incessante de homens trabalhando, papeando e cantarolando canções enquanto preparam o cimento, entortam ferros para colunas, passam com carrinhos de mão. Seu Francisco Gonzaga, companheiro de D. Zefinha, acompanha tudo com atenção e brilho dos olhos. Já imagina a criação de galinha caipira que iniciará assim que a água começar a dar sentido àquela construção.


Mas Seu Chicão e D. Zefinha não estão sozinhos nesse sonho. Em todo o município de Salitre, região do Cariri cearense, 99 famílias serão beneficiadas pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), desenvolvido pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e executado pela Associação Cristã de Base (ACB), em diversos municípios do Cariri. Só nos municípios de Salitre, Araripe e Potengi serão construídas 297 implementações.

E para que tudo isso ganhe forma, o trabalho dos cisterneiros é fundamental nessa soma em que todos ganham. Para quem não sabe, agricultores-cisterneiros são agricultores familiares capacitados para a construção das diversas tecnologias sociais associadas ao P1+2. No Cariri, a formação se deu em agosto e 35 agricultores receberam instruções e aprimoramentos por parte da equipe técnica da ACB.

Canteiro de Obras

“Eu comecei a construir cisterna em 2006. Quando eu comecei ainda era da cisterna pequena”, conta Antonio Eudes, um dos mais antigos cisterneiros a trabalhar em conjunto com a Associação Cristã de Base. “A ACB sempre tratou a gente bem e com respeito. Aprendi que quando eu faço cisterna eu não estou fazendo um bem só pra mim, estou fazendo um bem pra toda a comunidade de nosso sertão que precisa de água potável”, conta satisfeito.

Já seu irmão Pedro, apesar de jovem, não mais que vinte anos, sabe como ninguém transformar montes de cimento e areia em belas cisternas. “Eu comecei a ajudar meu irmão com 16 anos. Ele me repassou os primeiros conhecimentos para construir cisternas. Comecei batendo placas, depois fui pro piso e, por último, aprendi a fazer a cobertura. Tenho muito orgulho do que faço. Se perguntam minha profissão, digo que sou cisterneiro”, sorri orgulhoso.

Já o irmão mais velho é categórico ao afirmar. “Eu não faço isso só por profissão, faço isso com carinho porque é algo que vai ficar pra sempre na comunidade. As famílias nos tratam bem, o cabra se sente como se tivesse em casa e no final nos tornamos amigos. Eu faço cisterna porque nosso sertão precisa de água”, fala Eudes.

Não muito longe dali, na comunidade Cavalcante, uma turma muito ligeira pega no pesado. Eles se autointitulam “Gato a Jato”, uma brincadeira que se tornou moda entre os cisterneiros daquela comunidade. Assim, há a “Turma do Gato”, do “Gato a Jato”, a “Turma da Aranha” e a “Turma do Rastelo”.

Há três anos construindo cisternas, Cícero Antonio de Oliveira exibe com orgulho as diversas cisternas que levam sua assinatura. “Comecei a fazer cisterna em 2010, depois de um curso de uma semana. Não vou mentir fazer cisterna é uma coisa puxada, tem que trabalhar por gosto e não por dinheiro”.Exigentes, a turma do “Gato a Jato” já construiu quarenta e três cisternas na região de Salitre e não há quem não os conheça por nome e sobrenome.

Além de cisterneiro, Cícero cria pequenos animais em sua propriedade de meia tarefa. “É um terreno pequeno, mas bem aproveitado”, afirma. Ele mesmo construiu a cisterna-calçadão que dá vida aos animais que servem de alimentação e fonte de renda para ele, a companheira e o filho. “Só consegui tudo isso por causa dessa cisterna. Hoje eu acordo, venho no meu quintal e posso escolher o que eu e minha família vamos comer”, conta Cícero.

A construção das cisternas em uma comunidade é uma celebração em muitos sentidos. A celebração da vida pela chegada da água. A celebração do trabalho pelo esforço de todos e a celebração da solidariedade pelos laços que unem famílias, técnicos e cisterneiros pela convivência no Semiárido.

Turma do Gato a Jato!

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