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Economia Solidária: moeda comunitária é criada em Santana do Cariri

Clube de Trocas é realizado na comunidade de lírio, que criou a primeira experiência com moeda comuitária do município

Na noite de sábado, 1 de agosto, a comunidade do Lírio, em Santana do Cariri, realizou seu primeiro Clube de Trocas. Um evento de comercialização e troca de objetos doados pelos seus próprios moradores. Roupas, livros, CD, comidas típicas, entre outras coisas, estavam disponíveis para os habitantes e visitantes. A grande novidade foi a moeda solidária, o Lírio, trocado pelo o dinheiro convencional, o Real, que circulou durante o clube.

A moeda, criada para estimular a comercialização e fortalecimento da renda local, foi proposta no curso de Economia Solidária (Ecosol) realizado na comunidade nos dias 30 e 31 de maio e 27 e 28 de junho de 2015. O facilitador do curso, Joelmir Pinho, explica que a moeda surge de várias experiências inspiradoras, como a do Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, que criou o Banco Palmas para circular a moeda na própria comunidade. “A gente não está inventando a roda, a gente vai se inspirando em outras experiências. Na moeda convencional as pessoas pegam o dinheiro que gerou na comunidade e gastam lá fora. Às vezes, sai mais caro e pagando por produtos de menor qualidade”, explica Joelmir.

No caso do Lírio, a comunidade fez a experiência no Clube de Trocas. Todos os produtos disponíveis só poderiam ser comprados com a moeda local. Um real custava um lírio. “A moeda solidária se fortalece a partir do momento que você tem uma moeda que circula só na comunidade. Aí, ela vai passando de mão em mão. Então, uma pessoa que foi na mercearia, comprou feijão ou arroz para o almoço, o comerciante passa adiante para o cara do gás. O cara do gás repassa para o do posto de gasolina, que está na rede. Então, essa moeda vai passar alguns dias ou o tempo que for, circulando e aquecendo a economia local”, acrescenta Joelmir Pinho.

O processo de criação da moeda surgiu no curso de Economia Solidária, realizado pela Associação Cristã de Base (ACB), através do projeto Jovens Familiares Produzindo no Cariri, patrocinado pela Petrobras. O facilitador, Joelmir Pinho, já foi convidado para dar outros cursos e assessoria do projeto. Hoje, ele é diretor da Escola de Políticas Públicas e Cidadania Ativa (EPUCA) e trabalha dando palestras, cursos e assessoria de marketing pessoal, comunicação institucional e gestão social. Além do Lírio, em Santana do Cariri, outros sete cursos foram realizados nos outros três municípios atendido pelo projeto: Crato, Milagres e Nova Olinda.

Na comunidade do Lírio, Joelmir optou por um processo metodológico a partir da vivência, para depois aplicar os conceitos teóricos da Economia Solidária. “Eu estimulo a implantação do clube de trocas solidárias e aí, a gente passa a discutir os temas, os conteúdos, conceito, a parte teórica, a partir do que o grupo vai percebendo com a experiência do grupo de trocas”.

Durante o curso, Joelmir usou uma moeda experimental para estimular os moradores a criarem sua própria moeda solidária. No Lírio, a decisão partiu do próprio grupo.

Já o Clube de Trocas, Joelmir acredita que ela pode criar várias possibilidades. Há lugares que funciona, apenas, na base da troca de produtos e serviços. Enquanto outras comunidades estimulam a circulação da moeda solidária na compra de um produto. No Lírio funcionou das duas formas. Além da vivência, o clube estimula os moradores a doar objetos em bom estado, que possam interessar à outras pessoas, mas que não são mais usados pelo antigo dono. “Você doa para o clube de trocas. Há uma comissão que organiza e faz a gestão do Clube de Trocas. Ao fazer isso, ela exercita um princípio da Economia Solidária que é a autogestão”, explica Joelmir.

Aquele material doado pela própria comunidade ou por visitantes, vendidos pelos moradores no clube, através da moeda solidária, irá gerar uma receita. A renda pode ser revertida para o desenvolvimento da comunidade. No caso do Lírio, eles optaram por investir a arrecadação com o Clube do Trocas para pagar as despesas da criação da associação de moradores. O recurso gerado irá bancar o de registro da entidade. Além disso, outras atividades para gerar recurso estarão sendo realizadas. Por exemplo, na noite do Clube de Trocas, também aconteceu um bingo solidário com prêmios doados.

Assim, Joelmir acredita que o curso de Ecosol é importante, para agricultores e agricultoras, porque cria uma nova relação com a economia. Relação que coloca a vida acima do dinheiro. “De nada adianta a gente apoiar o desenvolvimento de uma comunidade ou grupo se a gente acaba, mesmo que de forma inconsciente, reproduzindo os mesmos valores do atual modelo de sociedade. Sociedade que está adoecida pela competição, pela negação, pela destruição da própria mãe terra, pela exploração do homem pelo homem”.

Além disso, a Economia Solidária estimula outros valores, que para Joelmir, acabaram sendo esquecidos ao longo da história da humanidade. “É essencial que a gente trabalhe com educação popular, com economia solidária, para estimular a reflexão e, principalmente, a prática de novos valores como o cuidado, a solidariedade, o acolhimento, a autogestão. Valores que estão presentes na Ecosol”, completa Joelmir, que acredita ser essencial, também, para práticas sustentáveis de preservação do meio ambiente.

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