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Apicultura: uma das formas de renda no Semiárido

Criação de abelhas na chapada do araripe, anualmente, atrai dezenas de apicultores de várias regiões do semiárido

Na comunidade de Lírio, em Santana do Cariri, mora a família de Antonio Francisco da Silva, de 37 anos. Lá, sua família já produz hortaliças no Sistema de Produção Agroecológico Integrado e Sustentável (PAIS), instalado há três meses, através do projeto “Jovens Familiares Produzindo no Cariri”, patrocinado pela Petrobras e realizado pela Associação Cristã de Base (ACB). Do seu sistema falta, apenas, a cobertura. Enquanto isso, está sendo construída uma cisterna Chapéu de Padre Cícero para garantir a segurança hídrica da produção.

Até o inverno do ano que vem, Antonio e tem que percorrer atrás de água, cerca de quatro quilômetros, de bicicleta ou nas costas de algum animal. Água de barreiro. Esse pouco de água serve para plantar sua roça. “No inverno planto milho, feijão, macaxeira. Pro consumo e para a venda. O feijão, quando o preço está bom eu vendo. Eu não vendo na época da colheita porque o preço está lá embaixo. A agricultura dá muito trabalho, hoje. A pessoa plantar e quando tiver na colheita, já vender assim, seguido, não tem lucro nenhum. Tem que esperar o preço ficar bom, como agora”, explica o agricultor.

Com a chegada da cisterna, pronta no começo de setembro, o agricultor pretende produzir muita coisa, principalmente, frutas. “Tendo água para fazer a irrigação fica mais fácil”, afirma Antonio, que hoje planta cheiro verde, tomatinho, alface e também, a cenoura. Ele já foi duas vezes para a Feira Agroecológica de Santana do Cariri, lançada no mês de julho, rendendo a sua família mais de 200 reais. Na época, levou, além do cheiro verde, tomate, abóbora e macaxeira. Tudo sem agrotóxico, garante.

Além da agricultura, Antonio tem uma criação de ovinos. Ele cuida, ao todo, de 25 cabeças. Antes, dez já foram vendidas. Junto ao sistema PAIS e sua roça, sustenta a família. Ao todo, cinco pessoas moram na casa. Iracema Rodrigues, sua esposa, suas filhas, Iasmim, 9 anos, e Amanda, 1 ano e 11 meses e seu sogro, José. Só que, muitas crianças vizinhas frequentam a residência.

No entanto, a principal renda financeira de Antonio vem da apicultura. Atividade que começou há cerca de 9 anos. Anualmente, o apicultor consegue 10 mil reais com 200 colmeias. No Lírio, além dele, há cerca de 40 criadores de abelha. Todas do tipo italiana. O mel produzido na comunidade é vendido para empresas exportadoras.

As caixas de colmeia ficam no Lírio na temporada de flores. Os apicultores trocam de lugar a cada florada. No final de setembro, por exemplo, elas retornam à região. Já que comunidade fica na Chapada do Araripe, surge muitas flores de frutíferas, como o mandacaru. É nesse período que aparecem criadores de abelhas de várias regiões, como dos estados do Piauí e Maranhão. “No tempo da safra dá tanto apicultor de um jeito que a pessoa fica pensando “Como é que a florada aqui dá mel para segurar tanta abelha que vem para cá?””. Em dezembro, Antonio conta que as colmeias voltam ao sertão com o fim da temporada. Até começar a atividade de apicultura, Antonio viveu várias experiências de trabalho, alguns fora do Ceará. Aos sete começou a trabalhar como agricultor. A escola deixou na quarta-série para “andar pelo mundo atrás de ganhar dinheiro”. Na Bahia, aos 18 anos, trabalhou em um projeto de produção de mangas. Sua irmã sempre ligava no tempo de colheita. “Era solteiro. Eu tinha 18 anos. A renda para quem era solteiro, jovem, era boa”, lembra o apicultor.

Depois da Bahia, Antonio se aventurou por São Paulo, aos 25 anos, chamado para trabalhar em usina de cana-de-açúcar. Quando chegou lá, estavam precisando de funcionário para ficar na entrada, recebendo as carretas e abrindo os portões. No portão de entrada foi onde ele ficou. “Eu nunca escolhi serviço não. Rapaz, eu não gosto de escolher serviço, mas aqui o ganho é mesmo do corte de cana aí fiquei na portaria. Dizem que São Paulo é ruim. É ruim para quem sai de cara para cima, procurando serviço. A pessoa que sai com serviço certo é bom”, completa o agricultor que permaneceu um ano e quatro meses no sudeste do país.

Lá, em São Paulo, era contrato. Com o fim dele, Antonio não permaneceu na usina. Voltou para o Ceará e recebeu o seguro desemprego. “Eu vou para o Ceará, recebo o seguro e quando tiver na última parcela eu volto e me emprego de novo”, pensava na época o agricultor. Só que, na volta à terra natal, conheceu Iracema, moça vinda de Patu, Rio Grande do Norte. O seu pai, José, havia se mudado para o Lírio e a trouxe pequena. A princípio, Iracema ficou em Juazeiro e depois, mais velha, se juntou ao restante da família, em Santana do Cariri. “Foi quando eu vim e conheci ela e comecei a namorar. Findamos se juntando. Aí constitui família e não foi mais para canto nenhum, fiquei aqui mesmo”, lembra Antonio, que abandonou os planos de voltar à São Paulo.

A ida para São Paulo foi importante para a vida de Antonio. Antes, praticava somente o trabalho como agricultura. A apicultura, sua principal renda hoje, surgiu de maneira bem curiosa. O jovem agricultor saiu para o sudeste com um sonho: comprar uma moto. Foi juntando dinheiro na usina de cana-de-açúcar e quando voltou ao Ceará, em 2005, conseguiu comprar o veículo: uma Honda CG 99. Foram R$: 3.500,00 investidos.

Na época que retornou ao Ceará, a comunidade do Lírio já recebia apicultores de várias regiões, principalmente do Piauí. “Todo ano eles vêm para cá. Eles me chamaram para trabalhar com eles e fui aprendendo a mexer. Acabei gostando”. Um trabalho, que segundo Antonio, é bem delicado. “Tem gente que diz que é um trabalho fácil, mas não é não. Tem que saber fazer um manejo, porque se matar a rainha, pronto. Ali já está praticamente perdido. Se for um enxame grande consegue fazer outra rainha, mas se for pequeno a tendência é acabar”, completa o apicultor.

Apesar de começar a gostar de trabalhar com as abelhas, Antonio tinha a dificuldade, na época, de não possuir nenhuma colmeia. Até que seu pai recebeu 20 caixas de colmeia, através de uma dívida que tinham com ele, da venda de um terreno. Aí o jovem apicultor começou a trabalhar. No entanto, teve que abrir mão da sua maior conquista, até então: a moto. A mesma que comprou depois de juntar dinheiro em São Paulo. Seu pai já costumava andar no veículo, então Antonio propôs à ele uma troca: “Vamos fazer o seguinte: o senhor fica com essa moto que eu fico com as colmeias”. Proposta aceita.

Aí começou seu trabalho. Hoje, Antonio Francisco têm 200 colmeias, todas conquistadas com o aumento do trabalho, que iniciou com apenas 20, trocadas na moto. “Fui trabalhando com elas, fui comprando uma caixa, comprando outra. Dessa 20 colmeia, fiz casa. Tive um prejuízo grande, mas em compensação tive um lucro maior ainda. Tudo que eu tenho hoje é através da apicultura”, lembra o apicultor. Hoje, seu pai ainda tem a moto, que funciona. Atualmente, Antonio ainda possui algumas colmeias, das primeiras 20. A maioria já se acabou.

Com a apicultura, criação de ovinos e agora, o sistema PAIS, Antonio Francisco pretende melhorar sua renda. No Lírio, construiu a casa através de muito trabalho, do lado de seu antigo lar de infâcia, que só restou o piso. Cuida de suas filhas e de seu sogro, junto com dona Iracema. “Eu fiz minha casa bem pertinho da que me criei, porque eu gosto daqui. A paz e o clima. Não tem comparação não, morar num lugar desse aqui. Tendo saúde, água, agora favorável, e a tranquilidade: é bom demais”.

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