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A vida pulsa no semiárido: linha do tempo de Dona Ana.


O primeiro encontro com Maria Ana (conhecida como Dona Ana) se deu em sua casa no Assentamento 10 de Abril no Crato – CE. A agricultora nos recebe e dá as boas vindas cheia de alegria. Antes de iniciar a linha do tempo e o mapa da comunidade ela já salta e diz Eu não sou letrada e não sei ler, mas sei das coisas. Na construção da linha do tempo a equipe técnica acompanhou a produção da mesma, antes da elaboração do referido material Dona Ana nos mostra toda sua produção em seu agrossistema. As terras em que ela trabalha são área do Assentamento 10 Abril, fazem parte do coletivo, mas a produção da mesma é dela, possuí cerca de 2 hectares.

Em seu quintal ela possuí um sistema PAIS (Produção Agroecológica Sustentável), criação de galinhas caipiras, porcos, gado, e sua roça. Ela nos mostra entristecida a roça de milho que este ano não vingou e teve perda de quase toda a produção por falta d’água. Ela diz Isso nos deixa triste ver as plantação morrendo sem poder fazer nada.

Dona Ana tem como início na sua linha do tempo o seu nascimento, em 1953 no sítio Coités em Barbalha – CE. Ela conta que nasceu em tempos difíceis, que sua família era pobre e que moravam em terras de patrão. Em sua trajetória familiar esteve ligada a roça, mas em tempos de seca a família trabalha no corte de cana-de açúcar em Barbalha. Uma história de luta e resistência, uma mulher que tem resistido ao tempo. Casou ainda jovem em 1974 com Joaquim Faustino, passou pouco tempo morando perto de seus pais Em épocas de escassez ela e sua família por vezes saíram de suas terras por não ter trabalho nos períodos de seca, moraram no Crato, em Fortaleza, e nessas andanças o trabalho com a terra ficou de lado e tanto ela quanto o marido passaram trabalhar com coisas da cidade. Dona Ana ganhava a vida como lavadeira e seu marido com ‘bicos’ que apareciam. Dona Ana teve sete filhos/as, perdeu uma delas sua filha mais velha Maria Alzenir que por vez teve uma filha Natalia Cristina, neta que foi criada como filha de Dona Ana. Seus filhos/as cresceram ao lado de uma mulher de luta, em 1991 Dona Ana começa uma luta que teve com fruto o lugar que hoje mora. O ano de 1991 foi marcado pela coragem e força de mulheres, homens, crianças, jovens e idosos/as que partiram em busca de terra para suas famílias. Assim neste ano através de muita resistência por parte das famílias e instituições que apoiaram a luta surge o Assentamento 10 de Abril. Foram dias assentados no Caldeirão do Beato Zé Lourenço, onde foram expulsos, após isso ocuparam o Parque de Exposição Pedro Felício Cavalcante no Crato, foram dias tensos e de enfrentamento. Daí em diante a vida dos envolvidos nessa luta começa a tomar corpo, depois de conseguirem a terra que tanto sonhavam se desenhava na comunidade sua organização e produção.

Foram muitas lutas, ocupação no INCRA, que durou uns 15 dias, que tiveram como fruto a construção das casas do Assentamento. Além dos frutos de luta, o Assentamento também recebeu o apoio de instituições (ONGs, SSTTR Crato, URCA e Secretária de Agricultura do Crato). Estas trouxeram projetos para a comunidade. A ACB nos anos de 1992 a 1994 levou o Projeto de Mulheres, este incentivou a criação de pequenos animais. Durante alguns anos a comunidade trabalhou em uma determinada área (que chamavam de baixio) onde Dona Ana e os demais começaram a produção de hortaliças, e aos poucos começaram a comercialização de seus produtos. Esta comercialização foi maior com a fundação da Feira Agroecológica no Crato, pela ACB. Dona Ana diz A feira é minha vida, é muito importante de lá tiro meu sustento.

A vida de Dona Ana sempre foi ‘sofrida’ como ela mesma conta, em 2014 as terras que ela trabalhava com hortaliças teve que ser desapropriada para a obra do Estado do Ceará, O Cinturão das Água, ela foi indenizada mas a perda foi além do financeiro. Dona Ana após ter perdido toda sua horta no mesmo ano foi selecionada para ser beneficiária no Projeto Jovens Familiares Produzindo no Cariri, projeto patrocinado pela Petrobras e executado pela ACB. Ela recebeu o Sistema PAIS (Produção Agroecológica Integrada Sustentável), com esse projeto segundo ela sua vida melhorou. O projeto resgatou sua produção e assim continua a comercialização de seus produtos na Feira.

Em 2001 foi escolhida em uma série de entrevistas para ser a capa do Jornal O Povo com o título A vida entre a flor e a foice. Em junho de 2014 na 11ª edição do projeto Mulher de Fibra no Crato recebe o troféu Mulher de Fibra, ela diz ‘Foi uma emoção tão grande, foi melhor que ganhar um carro na loteria. Estar ali no meio daquelas mulheres tudo importante e eu no meio me sentindo tão feliz'

Ainda em sua trajetória de lutas, em 2015 teve a oportunidade de participar da 5ª Marcha das Margaridas em Brasília - DF. Segundo ela foi uma das maiores experiências de sua vida. E com seus 62 anos participou da caminhada, segurando o painel do Cariri e bandeira. Como disse Dona Ana ‘Se eu morresse hoje morreria feliz por ter tido saúde para chegar até aqui.’

Dona Ana participou do I Festival Cearense de Sementes da Vida e III Encontro Estadual de Agricultores/as Experimentadores/as, o evento aconteceu do dia 04 ao dia 06/05 no Hotel da Fontes, no Caldas em Barbalha - CE. Sua participação se deu na mesa de Experiências de organização em rede, na tarde do segundo dia do evento. No mesmo dia do evento Dona Ana foi entrevistada pela Cariri Revista. Você pode conferir a entrevista no seguinte link: http://caririrevista.com.br/sementes-da-vida/

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