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Educação Popular: Intercâmbio realizado em EFA na Ibapaba leva participantes para conhecer a pedagog

Fotos e colaboração de texto: Zilvânia Nascimento e Nadine Macena

No Brasil as escolas nas zonas rurais já passam por imensas dificuldades. Segundo estudo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), até o primeiro semestre de 2017 cerca de 30 mil escolas seriam fechados. O fechamento das escolas não parou de crescer.


Em meio ao descaso na Educação do Campo as Escolas Famílias Agrícolas são uma alternativa. A proposta pedagógica é direcionada para adolescentes da zona rural, incluindo educação básica e profissional.


As EFAs funcionam no regime de internato, mas possuem um diferencial, o educando passa uma semana em estudos e outra em casa o que vai de encontro com a proposta da pedagogia de alternância. As primeiras EFAs surgiram na França em meados de 1935, ligada à Igreja Católica. No Brasil a primeira implantada foi no ano de 1968, no Espírito Santo.


No Projeto Cisternas nas Escolas Paulo Freire na última sexta-feira foi realizada uma visita de intercâmbio, uma das atividades que compõem o projeto, a Escola Família Agrícola Ibiapaba Chico Antônio Bié localizada no Assentamento Nova Esperança, em Tianguá – CE.


O Projeto Cisternas Paulo Freire é uma ação integrante do Projeto Paulo Freire, patrocinado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrário (FIDA) e Secretária de Desenvolvimento Agrário do Governo do Estado Ceará.


Foto: Nadine Macena

Participaram da visita professores e núcleo gestor das escolas, beneficiários do projeto Cisternas Paulo Freire. Além do corpo técnico da ACB, coordenador, técnicos de campo, auxiliar administrativo e monitores/as de GRH (Gerenciamento de Recursos Hídricos).


No período da manhã foi momento de conhecer a experiência da família de João Francisco e Maria das Graças, na comunidade Areia Branca. A família que reside na comunidade há 23 anos esteve envolvida na criação da EFA.


Durante a visita Nadine Macena, Auxiliar Administrativo da ACB e Cientista Solcial (URCA), pontua alguns pontos importantes. “Na visita ao quintal da propriedade do seu João, tivemos o privilégio de conhecer as tecnologias sociais que fazem parte do seu dia, a cisterna de enxurrada, um Bioágua e uma cisterna pequena, além de uma casa de sementes que fica do lado da sua casa e uma mandala, que está construída, porém não está em funcionamento. O seu João é presidente da associação de moradores e passa parte do seu dia fora de casa, contando com a esposa para cuidar de tudo, da casa, da horta e inclusive dos animais, pois ele cria galinhas e alguns caprinos, e ressalta a importância da sua dedicação ao quintal e a casa”, pontua.


A mesma possuí um elo de ligação com a EFA, o filho do casal Francisco Eduardo foi educando da EFA. Eduardo concluiu o curso em 2016, atualmente é monitor voluntário e seu pai é tesoureiro da escola. Sobre as dificuldades uma das participantes pode nos reacender a chama da esperança, Zilvânia Nascimento é auxiliar administrativo do projeto e sócia da ACB, "conhecer a EFA Ibiapaba foi para mim reativar a esperança de uma educação de qualidade para as nossas crianças no campo. Sentir o abraço e ver no olho daqueles jovens a esperança de um mundo melhor para todos me renovou enquanto pessoa, e enquanto ser espiritual", afirma ela.

Após a visita do quintal o almoço foi na EFA, com alimentos saudáveis sem agrotóxicos. Na contramão ao agronegócio alimento saudável é algo importantíssimo. A EFA nasceu inclusive em resistência ao agronegócio que se expandia na região em meados de 2008 até surgir em 2014.


Para Angélica Faustino monitora de GRH, licenciada em Geografia (URCA) a visita teve sua importância e ela relata “para mim como geografa foi extremamente importante tanto no sentido de conhecer um ambiente diferente do nosso. Como geógrafa licenciada na perspectiva da questão do modelo de educação que eles usam”, diz ela.


São 15 dias em sala e 15 dias de prática em casa. Atualmente estão em segunda turma, na primeira turma foram atendidos 4 educandos de 4 municípios, estando com 13 educandos. O processo seletivo acontece a cada 3 anos. O processo formativo dos educandos/as inspira os olhares atentos dos/as visitantes Zilvânia Nascimento transmite em sua fala "a EFA não é uma escola que forma técnicos, é uma escola que forma homens e mulheres para a vida, pessoas que saibam amar, ser empáticos e viver em comunhão por que eles aprendem a cuidar um dos outros, eles são uma verdadeira família. Essa experiência me fez retomar com inúmeras reflexões entre elas financeiras e sociais principalmente quando eles me trouxeram a informação que todos/as os/as professores/as da escola são voluntários/as. Uma história de luta e resistência que tenho certeza que será embasamento para todos que ali estiveram neste intercâmbio", conclui ela.


Ainda sobre as práticas Angélica Faustino complementa, “fiquei extremamente instigada em assistir uma aula lá, para ver como funciona. Como é essa integração tão grande que eles têm com a questão da mística. Que ficou muito claro e tudo amarradinho na apresentação deles quando chegamos lá. O que nos transmitiu foi como se tivéssemos participando de algo do dia-a-dia deles, o que eles fazem é o tipo de educação do campo que faz parte do cotiado da vida deles. Fiquei curiosa em participar de uma aula, pois só na visita já fiquei motivada em ver na prática as aulas”, conclui ela.










Foto: Nadine Macena

O intercâmbio se encerra com a alegria do grupo participante e da comunidade que recebeu carinhosamente cada uma e cada uma.


Um dos professores que participaram da visita nos deixou uma mensagem de agradecimento. "Em nome da Escola Avelino Martins (Sítio Bom Jesus - Tarrafas), venho aqui agradecer pelos momentos, porque não foi um só, foram vários momentos proporcionados pela ACB. Então a palavra é gratidão, por tudo mesmo. Obra finalizada, intercâmbios inesquecíveis de muito aprendizado. Então mais uma vez muitíssimo obrigada!" , diz Raimundo Bezerra.


Foto: Nadine Macena

Ainda no período da manhã aconteceu uma visita na Casa de Sementes.

 

A visita proporcionou emoções e ensinamentos a monitora de GRH e Cientista Social (URCA) nos deixou um breve relato sobre a visita. Confira:

"A minha experiência no intercâmbio realizado pela Associação Cristã de Base através do projeto Paulo Freire na Escola Familia Agrícola Chico António Bie no município de Tianguá foi inspirador no que se refere a União comunitária e a luta por uma educação de qualidade no campo, mesmo que essa educação seja ofertada sem recurso governamentais e sem estrutura de qualidade para acolher os alunos.

Na EFA Chico Antonio Bié é ofertada uma educação da pedagogia da alternância para os filhos de agricultores. Os estudantes possuem uma carga horária diferenciada do ensino regular, possuem matérias da base comum curricular ( matemática, Português, história, biologia, entre outras) e o técnico em agropecuária, a diferença é que todas as matérias são contextualizadas na realidade desse estudantes.

Tudo é voltado para a importância do campo, do agricultor e principalmente da familia. Para a gestão da EFA é fundamental a participação da familia no desenvolvimento e amadurecimento dos estudantes. O ano letivo é dividido em sessões. São 10 sessões (cada sessão corresponde a um mês letivo) de 15 dias internos na escola e 15 dias com a familia. Nos 15 dias com a familia os estudantes devem realizar todas as atividades teoricas e de campo para poder se admitido na sessão seguinte.

Visitando a comunidade Areia branca que fica próxima do assentamento Nova Esperança onde está localizada a EFA pude conhecer uma família de agricultores cujo filho Eduardo é estudante egresso da primeira turma da EFA. O Eduardo utilizou no sitio de sua família várias tecnologias para o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar que aprendeu a desenvolver na EFA.

Dentre as tecnologias a que me chamou mais atenção foi o sistema de reuso da água das pias e do chuveiro da casa. A água é coletada para um tanque onde é realizado o tratamento da água que vai para uma cisterna onde uma bomba joga para um reservatório e este abastece o sistema de irrigação das hortaliças. A comunidade também possuí uma casa de sementes.

Outra contribuição importante na vida dos estudante que eu pude identificar na fala da dona Graça, mãe do eduardo, é a transformação no comportamento do seu filho. Segundo a dona Graça e o seu João, pais do Eduardo, o filho deles começou a participar na divisão das tarefas de casa e nas tarefas do campo.

Antes de ir para o trabalho na Ematerce o Eduardo ajuda nas tarefas de casa, cuida dos animais, do plantio e do sistema de reuso da água. A EFA não é apenas uma escola da pedagogia da alternância. A EFA Chico António Bié é um centro de transformação e orgulho de todos que fazem parte dela, para pais, educandos, educadores, amigos e comunidade a EFA e os projetos que atendem as demandas das comunidades agrícolas só orgulham cada vez mais a luta do homem do campo e dá mais forças para continuar na luta pelo direito à terra, a alimentação com segurança e a poder dizer em qualquer ambiente " Eu sou agricultor, alimento você e sua família".

 

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