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Melipona e Zabelê: uma alternativa ecológica de renda em Nova Olinda


Zabelê é uma comunidade com uma característica de aconchego, onde muitos dos vizinhos são pais, irmãos, tios... Com uma grande peculiaridade do anseio da permanência na região, a exemplos de famílias em que aquela filha que se formou volta à comunidade para ser professora na escola local.

Herdeiros da tradição do cultivo de mandioca como forma de trabalho e subsistência, muitos dos moradores da comunidade Zabelê, localizada em Nova Olinda, viviam muito em função das temporadas propícias para venda do vegetal. Passado o chamado “tempo da mandioca”, os moradores voltavam às atividades agrícolas de plantio e trabalho na roça.

Cláudio, 35, presidente da Associação Comunitária, explica que os preços da farinha de mandioca estão baixos e isso acaba dificultando na produção cujo custo ao que finda não compensando toda a produção. Segundo ele, o saco de farinha que era vendido a até 150 reais, hoje estão valendo entre 35 e 40 reais. “Baixo assim não compensa nem fazer, tem que fazer pra não perder”, disse o agricultor.

Entre suas várias individualidades, Zabelê também é local de abelhas nativas, a canudo, jandaíra e uruçu, que não possuem ferrão e cujo mel produzido apresenta uma ótima qualidade e ainda tem finalidade medicinal. Apesar da presença dessas espécies locais no ambiente em que vivem, os moradores não tinham muito contato com os insetos e, o pouco que tinham, era com a abelha italiana. E é no cultivo do mel dessas abelhas nativas que muitos moradores têm encontrado alternativa de renda.

O que antes era feito de forma apenas para consumo e era pouco visto pelos homens do local, passou a ser mais utilizado e valorizado através da chegada de projetos trazidos pela Associação Cristã de Base (ACB).

O primeiro contato com a utilização racional do mel das abelhas nativas na comunidade se deu em 2008 através do projeto “Educação Ambiental na Floresta Nacional do Araripe: uma experiência a compartilhar”, apoiado pela Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará.

Francisco Batista, 32, conhecido como Kêra, um dos cuidadores dos meliponários, diz que o mel servia, a princípio, somente para consumo da família, especialmente para fazer xarope quando alguém adoecia ou mesmo para dar a algum familiar que vinha de São Paulo que também usava para fazer o remédio.

Em 2014, a atividade de apicultura da Melipona foi reforçada com o projeto “Jovens Familiares produzindo no Cariri”, patrocinado pela Petrobrás, que contemplou, inicialmente, 13 homens com uma capacitação que viabilizou, também, a instalação de alguns equipamentos no quintal cedido pelo tio de Kêra, seu Antônio Messias da Silva, 44 anos, conhecido como Valzin, também apicultor.

Seu Moisés, 54, que também desempenha a atividade, diz que, antes da capacitação, lidava muito pouco com abelhas e aqui ou acolá ajudava alguém com a abelha italiana. Com um sorriso no rosto, fala das reuniões e das formações para aprender a mexer com a apicultura da abelha nativa e menciona os 15 litros que conseguiu obter no ano passado que ajudaram na renda da família.

Hoje a produção de mel serve também como complementação da renda familiar e o meliponário da associação produz cerca de 40 litros de mel por ano. Além do meliponário coletivo, alguns apicultores têm algumas colmeias individuais que puseram em suas casas. O produto é vendido na comunidade e na Feira Agroecológica. Kêra diz também que os apicultores dividem as crias de abelhas com membros da comunidade que pedem para integrar a associação.

“Hoje a gente não pega mais enxame na natureza. Dificilmente. Teve a capacitação, né, a gente aprendeu a tirar da própria colmeia que a gente já tem e evitou de tirar da floresta.”, explica Kêra ao falar sobre o processo de formação em apicultura com abelha nativa fornecido pelo projeto.

Durante o período de implantação do projeto, entre as atividades desenvolvidas, houve, além da formação sobre a Melipmonia, iniciativas culturais com apresentações teatrais e festival de cordel. Os apicultores de Zabelê também puderam conhecer outras pessoas que desempenham a mesma atividade.

“A gente mexia pouco com elas. A gente era mais, assim, vamos dizer ‘predador’, a gente ia na natureza e tirava o enxame lá mesmo na árvore e jogava a cria fora. (...) A gente não tinha esse processo de divisão que a gente tem hoje, né? Que é o manejo racional.”, diz Kêra.

Kêra fala sobre a importância de cultivar mel da abelha nativa e de preservar esse hábito, diz ainda que serve como uma terapia. Segundo ele e seu tio, seu Valzin, que ainda desenvolvem outras atividades para subsistência, viveriam só de apicultura de meliponário se tivessem um número maior de colmeias.

As várias alternativas utilizadas para mantimento das famílias reforçam a vontade de manter-se no lugar de origem, que para muitos dos moradores é um ótimo lugar para se viver, onde muitos familiares moram perto.

Isso é característico do baixo êxodo que se pode perceber pelos moradores que preferem o campo, com suas casas e plantações do que a cidade. Mesmo recorrendo a várias formas de atividades de trabalho, como as temporadas que alguns passam no estado de Minas Gerais para a colheita de café, e assim conseguir um dinheiro a mais, a plantação de feijão, de mandioca e que, e ultimamente com a venda do mel da Meliponia. É notório o apego dos moradores ao local e poder contar também com a apicultura contribui com a vontade de se estar no Zabelê.

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