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Da terra para a terra

As histórias de Ery e Evandro, Técnicos de Campo da ACB, que conhecem o roçado desde criança

Diariamente, Ery Cláudio e Evandro Santos estão na batalha junto com agricultores e agricultoras rurais, os ajudando a tornar o Semiárido um lugar melhor de se viver. Vida com dignidade, qualidade e alegria. Muitas vezes, os técnicos da Associação Cristã de Base (ACB) deixaram seu descanso no fim de semana para estar em campo, instalando os sistemas de Produção Agroecológico Integrada e Sustentável (PAIS) ou articulando alguma atividade do projeto, como cursos, oficinas e reuniões. Agora, você vai conhecer um pouco sobre a vida dos técnicos agropecuários da entidade.

Ery, de assistido a assistente da ACB

Quando Ery Claudio, ainda criança, ajudava seu pai e irmão na roça, não imaginava que um dia a terra, a enxada e a foice continuariam sendo instrumentos de trabalho indispensáveis quando adulto. Na época, a sua família era assistida pela Associação Cristã de Base e foi lá, no ano 2000, que o rapaz teve seu primeiro contato com a instituição onde iria trabalhar anos depois. Além do manejo braçal e da lida no roçado, o técnico agropecuário faz questão de destacar que também é um bom comunicador, e se orgulha da facilidade que desenvolveu para transmitir aos agricultores e agricultoras das comunidades que atende todo o conhecimento que adquiriu na teoria e prática do plantio.

O pai, José, foi presidente do Sindicado dos Agricultores, em Crato. “Quando meu pai ia para a cidade participar das reuniões eu ficava em casa com meu irmão, ajudando no roçado”, relembra de quando ainda era criança no Sítio Valentim, distrito de Santa Fé, em Crato. Concluído o primeiro grau, Ery, como quem não se via em outra atividade ao não ser na lavoura, concluiu o ensino médio no Colégio Agrícola do Crato onde se formou Técnico em Agropecuária, em 2004. Foi o primeiro passo para que, no futuro, as atividades que exercia no sítio com seu pai e seu irmão se transformassem em rotina de trabalho. Mas não foi tão fácil.

No ano seguinte, o recém-formado técnico teve a sua primeira experiência de trabalho, “foi bem conturbado”, comenta. Foi quando participou da seleção para trabalhar como agente rural no município de Santa Quitéria. Junto com alguns amigos, Ery fez a prova e conseguiu ser aprovado no cargo, mas algumas dificuldades fizeram com que fosse inviável continuar exercendo suas atividades na cidade.

Ery resistiu, a vontade de ajudar o povo da roça e a lidar com a terra fez que com que permanecesse firme. “Logo após surgiu uma vaga pra trabalhar na cidade de Paraipaba, e eu fui”, relembra. A partir daí, foram mais dois anos de experiência como agente ruralista. Entre visitas, palestras e assistência técnica, ele ensinava ao mesmo tempo em que aprendia durante o tempo em que conviveu com as famílias rurais do litoral cearense.

Mas parece que o destino quis que o jovem que saiu das terras do Cariri voltasse pra casa. Foi durante uma visita à família e amigos que Ery soube que havia uma vaga para o cargo de Técnico Agropecuário na ACB. Viajou até Recife, onde fez um curso de capacitação no sistema de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS). Já como técnico da ACB, o rapaz que, quando criança recebia assistência da instituição, se viu ajudando, orientando e já pôde observar os bons frutos colhidos pelas famílias de agricultores e agricultoras que ele acompanhou durante todo o projeto Jovens Familiares Produzindo no Cariri.

“Para mim é muito gratificante. Um agricultor me disse uma vez: ‘eu estava dormindo, agora estou acordado’, saber que eu fiz parte de uma transformação na lavoura dele me deixa muito feliz”, conta. Ery destaca a história de Evaldo, que após a implantação do Sistema PAIS conseguiu aproveitar muito melhor sua terra e, junto com o seu filho Allan, viu aumentar a renda da família. “Hoje eles têm um carro pra transportar tudo que produzem, a produção que antes sustentava apenas o consumo próprio hoje é comercializada nas feiras da região. Coco, banana, arroz e amendoim são só algumas culturas que passaram a ser colhidas após a capacitação que nós implantamos”, diz orgulhoso.

A família de Evaldo é um exemplo vivo dos benefícios trazidos com as orientações do Projeto Jovens Familiares Produzindo no Cariri. Allan se formou Técnico em Agropecuária e hoje repassa seus conhecimentos para outros jovens da região através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf Jovem). O adolescente, que antes era tímido e recluso, passou a enxergar uma gama de possibilidades ao redor. Mais um troféu que Ery carrega, junto com a alegria e satisfação de poder fazer parte, junto com toda a equipe da ACB, do desenvolvimento do povo do roçado caririense.

A força jovem de Evandro

José Evandro ainda é jovem. Transparece toda a vitalidade e empolgação em poder lidar todos os dias com o plantio como técnico agropecuário da ACB. Filho de pais agricultores, desde cedo aprendeu que a mesma terra em que brincava com seus quatro irmãos na cidade de Porteiras, era a que provia o milho e o feijão que vinha à mesa. Morava na cidade e todo o dia ia com a família trabalhar na roça, “era um terreno de em torno de 16 tarefas, área boa”, relembra.

Evandro estudava e, na escola, tinha amigos que também eram filhos de agricultores. Ao concluir a oitava série, se juntou com alguns colegas quando surgiu a oportunidade de fazer um curso de técnico em agropecuária na então Escola Agrotécnica (hoje, Instituto Federal) de Sousa, na Paraíba. “Eu fiz a prova, mas fiquei entre os classificáveis, depois de um mês fui chamado para estudar lá”, comenta. Entre 2009 e 2011 estudou e morou no internato da escola, onde se formou.

Após concluir o curso, Evandro retornou para Porteiras onde estagiou por três meses na Secretaria de Agricultura da cidade. A espera pelo primeiro emprego como técnico não demorou muito. Logo após concluir o estágio, o jovem recebeu o convite para atuar na Associação Porteirense de Agroecologia (APA). Foi durante a experiência na APA que ele iniciou as visitas aos agricultores de sua cidade natal e o que aprendeu desde pequeno passou a ser de fato um ofício. “Eu não saí da escola técnica totalmente preparado para trabalhar, é a troca de experiência em campo com os agricultores que completa os meus conhecimentos”, reconhece.

Apesar de ainda jovem, Evandro é conhece bem a região onde trabalha e desde o início de sua jornada como técnico em agricultura já deu passos largos para conhecer de perto a realidade dos pequenos produtores agrícolas. A próxima parada foi no município de Jardim. Preenchendo uma vaga como bolsista da Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Ceará (EMATERCE), passou um ano realizando visitas técnicas na cidade.

De Jardim, foi mais longe: no estado do Pará foi onde presenciou sérias dificuldades enfrentadas pelos agricultores. Entre disputas de terra e falta de estrada de acesso às áreas de plantio, Evandro vivenciou uma experiência de seis meses na cidade onde atuava.

Na volta ao Cariri conheceu o trabalho da ACB e pôde fazer parte da equipe do projeto Jovens Familiares Produzindo no Cariri. Ele destaca como uma experiência renovadora a implantação do Sistema de Irrigação Por Gotejamento que, no início, sofreu certa resistência por parte dos agricultores que, segundo relata, estavam acostumados a irrigar a plantação com muita água, “com o sistema de gotejamento a gente consegue economizar a água e o tempo do agricultor”, diz.

“O resultado do trabalho que eu realizo aqui na ACB não tem preço, poder estar sempre perto dos agricultores é algo especial pra mim”, relata.

***

Ery e Evandro são exemplos de como o um trabalho comprometido com o desenvolvimento do próximo pode gerar mudanças surpreendentes na vida das famílias de agricultores. Juntamente com a equipe da ACB, dentro do Projeto Jovens Familiares Produzindo no Cariri, os técnicos de campo atuam nos municípios de Crato, Nova Olinda, Milagres e Santana do Cariri, totalizando 30 comunidades.

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