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Dois nomes, duas profissões: professora e agricultora

Maria do Socorro ou, simplesmente, Rita de Cássia. Sua família ajudou a transformar a comunidade de Sol Nascente, em Milagres.

O sítio Sol Nascente, em Milagres, se desenvolve nos últimos 20 anos com a força de trabalho dos seus moradores. Próxima à rodovia BR-116, a comunidade possui mais de 100 famílias, que aos poucos vai crescendo. No início, poucas casas haviam no lugar. Mas, do início da década de 1990 para cá, muita coisa se transformou e mudou a vida dessas pessoas. A Associação Cristã de Base (ACB), através do projeto “Jovens Familiares Produzindo no Cariri” enxergou o potencial produtivo do lugar e agora constrói parte dessa história.

Tudo começou em 1995, quando os moradores se articularam para fundar a primeira Associação Comunitária do Sol Nascente. Naquele ano, a jovem Maria do Socorro, com apenas 16 anos, já ocupava o cargo de secretária da associação. Hoje, a presidenta da entidade, ela conta como a comunidade se transformou.

Aos 37 anos, Maria do Socorro é popularmente conhecida como Cássia. Até mesmo sua família só a chama por esse nome, escolhido graças a uma promessa. Sua mãe, que chegou a casar com 42 anos, só veio tê-la o através de uma gravidez de risco. O parto teve que ser cesariano. “O médico disse que ela ia morrer. Ela fez uma promessa com Santa Rita de Cássia que se ela não morresse, nem eu morresse, ela colocaria o nome de Rita de Cássia. Aí ela ficou três dias sem ver o mundo. Meu pai foi lá e registrou Maria do Socorro, que era o nome de uma sobrinha dele que tinha morrido. Mesmo assim, ela nunca chamou de Maria do Socorro”, explica.

Cássia foi com sua família para o Sol Nascente, aos cinco anos, e lembra que haviam apenas três casinhas no lugar. Vindos de Pernambuco, o casal de agricultores ensinou a sua filha única, ainda criança, como plantar, colher e cuidar da roça. Isso a orgulha. “Não tenho vergonha de dizer que sou agricultora. Meus pais me ensinaram. Eu procuro repassar para a comunidade meus conhecimentos, também”, conta. Hoje, mãe, agricultora e professora, ela conseguiu, com a ajuda de sua família, tornar sua terra em local produtivo, rico e que gera parte do sustento da casa. Além dela, três filhos, o marido e sua mãe dividem as tarefas do lar.

Sempre ativa, Cássia foi uma das primeiras participantes do grupo de jovens do Sol Nascente, que faziam atividades para arrecadar fundos para a Associação. Animava a missa, cantavam nas novenas, realizavam festas sociais ou vendiam comidas típicas. Além disso, o grupo criou uma corrida, espécie de maratona, que premia os vencedores com medalhas.

Umas das primeiras conquistas da associação, junto com os moradores, foi a Escola de Ensino Infantil e Fundamental José Gomes da Silva Neto, que leva o nome do filho mais velho de Cássia, que faleceu em acidente de carro. Sua mãe doou o prédio em 1998 e, hoje, ele funciona atendendo outras comunidades como Jenipapeiro, Mororó e Minador. Ao todo, são cerca de 80 alunos, da creche ao segundo ano.

Também, nestes 20 anos de associação, os moradores conseguiram construir, em 2001, a capela de São Camilo de Léllis, padroeiro dos enfermos. Ela fica de frente à escola, vizinha à casa de Cássia. Aos poucos o prédio foi tomando forma, com a arrecadação de fundos pela comunidade. Bingos, quermesse, barracas de comidas típicas foram algumas das ações que ajudaram a ampliar o espaço.

Lá, na Capela de São Camilo de Lellis, é onde acontece reuniões, cursos e oficinas. Inclusive, é onde sedia as capacitações do projeto “Jovens Familiares Produzindo no Cariri”, mas também já houveram formações sobre culinária e cultura orgânica, organizada por outras instituições. Em julho, a capela sedia a tradicional festa do padroeiro.

Ao lado da capela, fica as produções de Cássia e sua família. Uma grande variedade de frutas, como o mamão, limão, manga, banana, caju e abacate. Além das verduras, que aumentou com a chegada do sistema de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), benefício do projeto. Lá, ela planta tomate-cereja, alface, cheiro verde, couve e pimentão. Só na primeira produção, foram 570 molhos de coentro. Toda essa produção é vendida, além do consumo, é fornecida para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

No PAA e PNAE, ela entrega coentro, pimentão, tomate, batata-doce, banana, mamão, que são fornecidos para escolas, hospitais e outros órgãos municipais. Além disso, Cássia e seu filho, Isaac, de 18 anos, participam da Feira Agroecológica de Milagres, criada pelo projeto. A feira chegou a render de R$130,00 à R$180,00 para a família. A agricultora destaca que as pessoas estão conhecendo a feira e elogiando a iniciativa. “Até os médicos visitaram, compram e dizem “Estava precisando de uma feira dessas, aqui”.

Isaac, filho mais velho, ajuda com o sistema PAIS

Ademais, Cássia acredita que a Feira Agrecológica mudou o pensamento dos feirantes, que aprenderam nas capacitações a serem mais solidários. “A gente faz amizade. Quando a gente não tem o produto, a gente indica outros feirantes”, completa a agricultora, explicando com entusiasmo que não sobra ovos e banana em todos os dias de venda.

Além de todas as atividades da associação de moradores, da agricultura, das reuniões do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais que participa, Cássia também é professora escola da comunidade. Formada em Pedagogia, ela é especialista em Gestão Escolar e tem pós-graduações em Matemática e Física. Assim, tão aterafada, seu marido, Lerivan, de 40 anos, e alguns agricultores ajudam na produção. São 12 tarefas de terra produtivas, que, assim como o Sol Nascente, se desenvolveram com muito trabalho e perseverança de sua família.

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